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SÉRIE: CURTUME

SÉRIE CURTUME: IV

Trabalhadores

Tamil Arasi. Mulher, jovem, indiana, viúva e com quatro filhos. Aos 32 anos, seu marido morreu ao inalar grandes quantidades de gases tóxicos. Onde ele trabalhava? Em um curtume. Essa história está contada no vídeo ao lado e é o retrato de diversas outras recorrentes no ambiente de curtumes.

Nós, consumimos, infelizmente não temos o hábito de pensar em como aquele produto chegou até nós. E isso é realmente uma pena!

Ao se falar nos bastidores da moda, a minha maior preocupação é com os trabalhadores. Eles estão diretamente envolvidos nos processos de produção, eles que colocam a “mão na massa”, eles têm seus objetivos ao aceitar determinados ofícios, eles estão ali por uma causa.

É lindo ver nos filmes e revistas a moda nas passarelas, o estilista em seu ateliê pensando no novo molde, os costureiros com salas só para eles. Mas será que é sempre assim?

Sem máscaras, botas, luvas, ambientes limpos, refeições, água potável, salários dignos, os trabalhadores dos curtumes estão em contato direito com substâncias arriscadíssimas. Suas digitais se perdem entre um tanque de cromo e outro de formol. A sensibilidade dos dedos fica de lado ao estar manuseando peles de um lugar para o outro. Esse cenário pode estar apenas no nosso imaginário, mas era assim que o marido de Arasi trabalhava todos os dias.

Os quatro filhos do casal dependem agora do pequeno salário da mãe. Quando eles tiverem idade suficiente para ajudar em casa, provavelmente farão. O que deve nos preocupar é qual emprego essas crianças terão e se vão ter acesso à educação. Será que o futuro deles está nos curtumes ilegais? Esperamos que não.

Por isso, aqui fica uma dica. Se conscientize. O que não queremos para os nossos familiares e amigos, temos de estendê-lo até àqueles que não temos contato nenhum. O ser humano precisa de liberdade, precisa batalhar pelo alimento todos os dias em locais que disponibilize o mínimo de infraestrutura.

Pensemos em Tamil Arasi, no marido dela, nos filhos, nos seus filhos...

09/06/2016

SÉRIE: CURTUME III

Saúde

Uma região que não tenha acesso devido a água e saneamento básico sofre, entre outros aspectos, com os problemas de saúde. Assim ocorre em Hazaribagh (Bangladesh). Neste local há mais de 200 curtumes, de acordo com o site Zona de Risco, e nós já vimos, na matéria anterior, que eles despejam litros e mais litros de águas contaminadas nos rios. E quem sai prejudicado com isso? A população.

Em regiões como Hazaribagh, onde a pobreza está evidente por todos os lados, as pessoas precisam sobreviver de qualquer forma. E é aí que entra a parte da indústria da moda, que não se importa com as procedências dos materiais utilizados para a confecção de seus produtos, mas sim, com os lucros que vão obter ao final do processo.

Pelos pequenos curtumes cobrarem preços razoáveis às marcas de moda, como os de Bangladesh, a mão de obra trabalha arduamente para cumprir com os prazos das encomendas. Sem muitas opções, o que resta é aceitar um emprego em que algo será muito prejudicado: a saúde.

As químicas utilizadas durante as etapas de curtimento queimam a pele dos trabalhadores. Isso causa feridas, ardências e sensibilidade da pele. Nos curtumes ilegais, não há luvas, botas e máscaras para amenizar os problemas. Muitos trabalham com o pé no chão.

Próximo aos curtumes existem casas, o que piora ainda mais o quadro de saúde, já que mais pessoas são afetadas, mesmo que indiretamente. Parece que o cheiro produzido nesses espaços não é dos mais agradáveis. E se até o ar está poluído, significa que tem gente com problemas respiratórios.

Essa não é uma realidade “apenas” da Ásia, há tantos outros lugares que passam por situações semelhantes. Mas como sabemos, o acesso à saúde é escasso em quase todo o mundo. Os governantes desviam a verba que seria para a construção de hospitais e contratação de profissionais. Estes últimos, quando não possuem dons para trabalhar com pessoas, nem aparecem nos plantões. Entretanto, tem o outro lado. Os que amam a profissão, mas não tem equipamentos e remédios para exercerem suas competências.

E é assim que seguimos com os curtumes ilegais. Trabalhadores e população escravizados pelo sistema do “dinheiro acima de tudo”, e a saúde...nada!

02/06/2016

SÉRIE: CURTUME II

Impactos Ambientais

Os sapatos e acessórios feitos em couro não são confeccionados com a pele do animal crua. Há um longo processo, que inclusive foi mostrado na matéria anterior, que está logo abaixo. Nas etapas realizadas para a materialização do produto final, já vimos que a indústria do curtume adiciona diversas químicas para que a pele não apodreça e danifique.

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Por isso, há um aspecto que precisa ser observado e que atinge a todos nós: o meio ambiente. Pelo grande descarte de líquidos com resíduos tóxicos, os esgotos (que nós sabemos que são jogados em rios e mares), os solos, a atmosfera... são diretamente afetados por esses produtos químicos. Isso causa um problemão na saúde pública, mas deixemos para falar disso em outra matéria da série.

Para se ter uma noção. Quando a média de produção/dia de um curtume chega a 3 mil peles, de acordo com o Senai, a quantidade de 1.900 m³ de água é gasta. Sabe o que esse número equivale? Ao consumo de água de uma população com 10.500 habitantes. Pensa só, é muita coisa!

Nós sabemos que a água é um bem em falta e as populações têm sofrido com isso. Imagina o nosso corpo ingerindo partes dessa água contaminada por cromo e ácidos clorídricos, além de sangue da pele, pelo e gordura? Só de pensar dá até dor no estômago.

Essas químicas também afetam os solos. Quando descartados irregularmente, a terra absorve esses produtos que afeta as plantações e árvores frutíferas. E o mal cheiro advindos dos resíduos danifica o bem estar das pessoas que moram próximas aos curtumes.

Mesmo com a preocupação dos cidadãos, sociedade civil e órgãos públicos que estão a discutir soluções imediatas a respeito dos impactos ambientais, ainda existem curtumes que funcionam no esquema das indústrias de moda. O tempo é tido como precioso e cada centavo é indispensável.

26/05/2016

SÉRIE: CURTUME I

Produção

      Os nossos sapatos, casacos e acessórios são fabricados com um material importantíssimo para a indústria da moda: o couro. Para que aquela roupa linda que encontramos nas lojas chegue até nós, este material passa por um processo longo. E dá para imaginarmos o nosso cotidiano sem esse produto valiosíssimo?

     Muitas vezes nem nos damos conta da importância real do couro, mas se pararmos um pouco para olhar ao nosso redor, vamos logo perceber que ele está muito presente. E para a moda não é o oposto.

       Assim que os animais são abatidos, as peles são retiradas para transformá-las em couro. Ainda quando estão em crescimento, os cuidados com a pele desses animais são bem rígidas para que a matéria-prima tenha um valor significativo no mercado.

      Até quando as peles são transportadas para os curtumes, tem de a armazená-las de forma apropriada, para que no meio do caminho a mercadoria não perca. Agora vem a pergunta: o que é um curtume?

      Curtume é a etapa de transformação da pele animal em couro, para que a indústria a utilize. Desse modo, a primeira parte é a pesagem da pele e, depois, o couro é separado conforme o método a qual será produzida. A seguir, inicia-se os processos para modificação, que ocorre da seguinte forma: ribeira, curtimento e acabamento.

       Na ribeira, a pele é limpa. Nessa parte, o material é colocado em uma máquina chamada fulão, e logo passa pelo remolho (retirada do sal), depilação (sulfeto de sódio para dissolver os pelos), caleiro (cal hidratada para retirada de fibras) e desencalagem (remoção de substâncias que ainda possam existir na pele)

     Após toda a descrição acima, vem a penúltima parte: o curtimento. Aqui começa a alteração para o couro e algumas substâncias são adicionadas para que ele não apodreça- curtimento vegetal (uso de taninos), sintético (formol) ou mineral (cromo). O mais utilizado tem sido o mineral, com o cromo, pois sua ação é rápida.

       E o acabamento, como o nome já indica, finaliza o produto para que fique macio, resistente, impermeável e elástico. Com o pouco falado aqui, deu para se ter uma noção a respeito do curtume. Mas teremos outras informações para passar em outras matérias dessa série.

19/05/2016
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