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Jô de Paula
28/06/2016

Estilista leva a pluralidade do crochê às mãos de consumidores conscientes

Foto: Arquivo pessoal/Jô de Paula

Criativa, colorida e alma leve. Essa é a Jô, cuja simplicidade da vida leva para a marca que tem o seu nome. Jô de Paula Ateliê.

Jô busca traduzir o seu negócio conforme o dia-a-dia. Preocupação com o meio ambiente em busca de um consumo lógico. 

Sem medo de mudanças, ela saiu do Rio pra ir trabalhar em Floripa. Mas queria algo novo! Foi então que teve contato com artesãs caprichosas no Ceará, que faziam crochê como ninguém.

 

Apaixonada pelo novo universo que se inseriu, a estilista, junto com uma equipe selecionada a dedo, confecciona bolsas e o que o cliente pedir. 

Venha conhecer essa pessoa e o trabalho incrível que produz.

 Jô, porque você decidiu montar um negócio artesanal? 

Me mudei para o Ceará com a intensão de trabalhar com algo feito a mão. Eu sou fã do trabalho do Lino Villaventura e ele foi minha primeira inspiração para querer trilhar esse caminho. Eu queria algo mais livre e pessoal. Como aqui tem muita variedade de artesanato comecei a pesquisar, fiz trabalhos que me levaram a conhecer algumas artesãs e vi ali uma possibilidade de unir moda, tradição a um trabalho mais autoral, sem tanta preocupação com tendências, sem ter que copiar e em menor quantidade.

 Quais foram suas experiências profissionais anteriores a Jô de Paula Ateliê?

Eu comecei trabalhando no Rio em 1996 numa confecção chamada Crazy Queen, a gente fazia peças mais diferenciadas e em pouca quantidade para grandes marcas como Cantão, Animale, Maria Bonita e outras. Nesta marca aprendi muito sobre acabamento de qualidade, utilização de bons materiais, foi minha base. Depois fui para Florianópolis e trabalhei numa marca de jeanswear chamada Boby Blues, onde fazia parte da equipe de criação cuidando das roupas e dos acessórios. Em seguida vim para o Ceará onde fiz figurino para teatro e cinema, trabalhei na prefeitura com um projeto de artesanato para o mercado de luxo (onde conheci as primeiras artesãs), criei a minha primeira marca, a Catarina Mina com uma sócia. Me desliguei da marca em 2014 e agora tenho a Jõ de Paula.

A modista é um projeto seu realmente incrível. Como tem sido a procura dos clientes em busca desse serviço exclusivo?

Como é um serviço mais lento eu ainda estou estruturando aos poucos, deixo mais a divulgação no boca a boca. E como as peças demoram para ficarem prontas prefiro ir aos poucos para poder oferecer um serviço de qualidade. Mas tenho feito peças especiais, neste momento estou fazendo roupas das daminhas de um casamento para outubro. Eu adoro fazer roupas, então foi a forma de incluir essa paixão no trabalho que já faço.

O fast fashion está difundido em quase todos os países. Qual são os benefícios desse sistema e no que ele prejudica?

O problema do Fast Fashion é o incentivo ao consumo desenfreado. Muita variedade por preços mais acessíveis só que muitas vezes, como já vimos, por consequência de condições desumanas da mão de obra que produz essas peças e isso é inadmissível. Se a empresa for responsável e transparente na sua forma de produção é uma ótima opção para quem quer estar na moda ou mesmo bem vestida com pouca grana.

Como ocorreram as parcerias da Jô com outras marcas? E você busca informações sobre a cadeia de produção dessa lojas parceiras?

Como trabalhei no Rio eu já tinha alguns contatos, outros surgiram em feiras que participei por lá e também alguns em que liguei, mandei o material e se interessaram pelo meu trabalho. Sim, algumas empresas grandes visitam os fornecedores e também pedem que assinemos um termo de compromisso sobre nossa condição de trabalho, o que dá segurança de que eles tem este tipo de cuidado com todos os fornecedores.

Quantas pessoas trabalham com você e quais são os papéis que desempenham?

Meu atêlie é pequeno com 3 funcionárias, acabadeira, costureira e uma assistente de estilo. As artesãs são 5 que sempre trabalham comigo, mas se a produção for maior temos outras que entram no grupo para suprir a demanda. Elas trabalham em casa pois a maioria é dona de casa, tem filhos para cuidar, almoço para fazer, as atribuições do dia a dia.

Quanto tempo, em média, é confeccionada uma peça da Jô?

Depende do modelo, tem peças que levam 8 hs, outras 4,5 hs. E ainda tem o tempo de acabamento, tirar fiapos (limpar), colocar alça, embalar.

(...)podemos sim consumir, mas de formas criativas e mais responsáveis, comprando menos, pensando antes de levar uma peça que depois vai ficar no armário com etiqueta.

Tem alguma coleção nova vindo por aí?

Já estou trabalhando no Verão, fazendo os primeiros testes, começando a brincadeira para ver onde a inspiração me leva!

Você acredita que as pessoas estão mais conscientes sobre as questões sustentáveis e as relações de trabalho que ocorrem dentro da moda?

Acredito que sim, esse é um grupo que cresce a cada dia. E não é apenas na moda, mas também na comida, na forma de lidar com as cidades. Ainda tem muita gente que não se preocupa também mas acho que a tendência é cada vez mais as pessoas se preocuparem com o planeta e com o que consomem, até por uma questão de sobrevivência. As gerações mais novas já falam disso na escola, é um tema mais presente na vida delas, mais natural, então acredito que cada vez mais as pessoas vão querer saber de onde vem o que consomem.

Qual a maior dificuldade em manter um negócio voltado para a moda consciente e slow fashion?

É a mesma dificuldade das pequenas empresas, você tem que se destacar num mercado com muitas opções, disputar com marcas que tem muito dinheiro e grandes investimentos em marketing, achar seu público alvo e conseguir se comunicar com ele. A outra questão é você adequar esse conceito ao mercado, mas de alguma forma acho que estamos procurando novos formatos para a comercialização e para a forma que queremos viver daqui para a frente.

Você pode explicar para as pessoas que estão lendo, a importância de repensar o consumo? Por que a indústria tradicional da moda deve ser revista?

É importante valorizar mais o que consumimos, o material, a qualidade, o design, a gente criou necessidades que não temos de verdade. E ao mesmo tempo podemos sim consumir, mas de formas criativas e mais responsáveis, comprando menos, pensando antes de levar uma peça que depois vai ficar no armário com etiqueta, não comprando de marcas que exploram a mão de obra, comprando em brechós, trocando com amigas ou em sites especializados, comprando itens de qualidade e que possam durar mais. A indústria tradicional só pensou em consumo por muito tempo, mas agora temos problemas climáticos que não podem mais ser ignorados, o consumidor também mudou, ele tem mais informação, ficou mais exigente.

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